Um dos principais mananciais de abastecimento de água de Belo Horizonte, a Estação Ecológica Fechos, está ameaçada por esgoto clandestino. Em vez de ser levada para a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da Copasa, inaugurada em 2007, parte dos detritos domésticos do Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, às margens da BR-040, têm tido como destino a rede de drenagem pluvial, que desemboca no Córrego Seco. O curso d’água fica na área de captação de Fechos, situada dentro do Parque Estadual Serra do Rola Moça, que fornece água para a maioria dos bairros da Região Centro-Sul da capital.
Análise feita em março no Córrego Seco pelo Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), a pedido da comunidade do Condomínio Jardim Monte Verde, às margens do riacho, no Jardim Canadá, apontou má qualidade da água. A concentração de coliformes está 53 vezes maior do que a tolerável, tornando o bem natural impróprio ao consumo. A água, antes límpida, ganhou a coloração cinza, com manchas de espuma, e exala mau cheiro. Denúncia com a irregularidade foi protocolada segunda-feira por moradores do Jardim Monte Verde no Ministério Público Estadual (MPE). Na semana passada, eles também ajuizaram ação civil na Justiça de Nova Lima cobrando atitude do município e da Copasa e temendo a contaminação de poços artesianos que abastecem o condomínio.
O problema foi denunciado em 2006 pelo Estado de Minas e se agravou desde então. Em quatro anos, a população do bairro saltou de 3 mil para 10 mil moradores. De lá para cá, a Copasa instalou a ETE e coletores de efluentes no bairro, que cobrem, segundo a empresa, 80% dos habitantes. No entanto, moradores se recusam a fazer a ligação de suas casas com a rede da concessionária de água e esgoto, por causa do encarecimento de 60% no valor da conta. A alternativa tem sido a manutenção de fossas e o despejo clandestino de detritos. “Muita gente ligou esgoto clandestino mesmo. É uma cachoeira de detritos poluindo o lençol freático da Mata de Fechos”, afirma o presidente da Associação Comunitária do Bairro Jardim Canadá, Claudionir Assunção, que tenta sensibilizar moradores sobre a situação.
De acordo com o presidente da Comissão de Síndicos do Jardim Monte Verde, Robert Laviola Vagliano, a natureza já sente a contaminação do Córrego Seco, que passa bem perto da estação de tratamento de efluentes do Jardim Canadá e da área de captação de Fechos. “Quatis e veados mateiros vinham até aqui beber água. Meus filhos já não vão ver mais isso. A fauna acabou”, lamenta. Segundo ele, houve omissão por parte da Copasa no cuidado com a região. “Por muito tempo, a ETE não operou porque o esgoto não chegava. A Copasa também havia se comprometido a monitorar os poços e até hoje não fez nada”, critica.
Paralisação
A Prefeitura de Nova Lima informa que tem fiscalizado ligações clandestinas de esgoto e, quando detectado o problema, notifica e autua os responsáveis. “Mas, por ser clandestino, é difícil achar onde há ligações nessa situação”, diz, em nota. Em relação ao funcionamento da ETE, o órgão municipal assume que houve problema no reator da estação, sistema por onde passa o esgoto, o que tem comprometido a operação. “Para fazer o reparo sem paralisar a atividade, é necessário retirar a peça e manter um Caminhão-ETE, ao lado da estação. A Prefeitura aguarda a liberação do caminhão, que será feita pela empresa Vale.”
Por restrições da lei eleitoral, a Copasa se limitou a informar que não há contaminação na captação do manancial de Fechos. Segundo a concessionária, a água está sendo encaminhada normalmente para tratamento na Estação de Morro Redondo, onde segue, em perfeita condição de consumo, para bairros da Região Centro-Sul de BH, como o Mangabeiras, Belvedere e Sion.
Fonte: Estado de Minas 06/07/10 Flávia Ayer
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