O voo das aves deixou claro que os peixes voltaram para casa. À margem, as capivaras também sinalizaram que o cansado rio voltou a respirar. A meta 2010 – de nadar, pescar e navegar no Rio das Velhas – foi cumprida em muitos trechos da bacia hidrográfica de um dos mais importantes afluentes do Rio São Francisco, alcançando sucesso de 60%. Mas ainda é preciso conquistar mais. Por isso, ainda que dourados, curimatãs e matrinchãs tenham voltado a se banhar em algumas regiões do Velhas, o novo desafio é fazer com que eles apareçam bem perto de Belo Horizonte, onde o rio ainda não está para peixe.Para isso, o projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já estipulou um novo prazo: 2014. Até lá, a expectativa é de que a região metropolitana possa, enfim, mergulhar, praticar a pescaria e, também, a navegação no curso d’água. Com a adoção da nova meta e com a ideia de que ações de preservação e de revitalização das águas do Rio das Velhas devam ser constantes, a experiência acumulada durante esses seis anos, desde que o governo de Minas abraçou a causa sugerida pelo Manuelzão, em 2004, trouxe lições. A principal delas é a importância de mobilizar as comunidades.“Foi a participação dos moradores que deu mais mobilidade à causa e fez com que a meta trouxesse bons resultados”, comenta o coordenador do biomonitoramento do Manuelzão, Carlos Bernardo Mascarenhas, afirmando que, não houve nada comparado no Brasil em termos de avanço na recuperação de um rio como este projeto. “Nem tudo que deveria ter sido feito foi cumprido. Mas muito se conquistou”, reconhece, apontando como melhoria a qualidade da água. “Mesmo que estejamos longe do ideal, o que temos visto ao longo do Velhas é que, com a meta, uma série de cidades começou a tratar seu esgoto, a se preocupar com ele. Acredito que, num médio prazo, o volume de esgoto tratado ao longo da bacia vai superar a média nacional”, aposta.Antes da meta, em 1999 e 2000, o Manuelzão fez uma amostragem das espécies de peixes que havia próximo a BH e o resultado foram apenas nove, entre elas a tilápia. “Numa segunda bateria, em 2006 e 2007, capturamos 20 espécies, entre elas o dourado e matrinchã. Até meados do ano que vem, vamos fazer nova análise e a expectativa é de um número bem maior, pois há quem já tenha visto dourados em Sabará, na Grande BH”, comemora Carlos Bernardo.Acordo O documento para a nova meta já foi assinado por autoridades de Minas, no último sábado. O prazo exclui a construção de barragens na calha do Rio das Velhas e na bacia do Rio Cipó. No caso de Santo Hipólito, uma barragem, de acordo com informações do projeto, teria consequência devastadora sobre os ecossistemas da bacia do Cipó/Paraúna, Pardo e médio Velhas, além da inundação de povoados, de terras férteis da região e isolamento de pessoas. “O objetivo maior da Meta 2014 é a conquista de uma sociedade com nova visão-de-mundo que seja civilizatoriamente superior, ecossistemicamente adequada às necessidades de todas as espécies, verdadeiramente democrática e justa, abolindo fronteiras e preconceitos. As águas e o peixe estão cumprindo o papel estratégico de guias e inspiradores de uma transformação da mentalidade”, escreveu no site do Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, coodenador-geral do projeto.
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